quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Yemanjá







Yemanjá


Iemanjá ou Yemanjá (do iorubá Yemọja), era na origem o orixá dos Egbá, nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemọja. As guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a migrar para Abeokutá, no oeste, no início do século XIX, levando consigo os objetos sagrados, suportes do axé da divindade. O rio Ògùn, que atravessa a região, tornou-se a nova morada de Iemanjá. Segundo Pierre Verger, esse rio Ògùn nada tem a ver com Ògún, o orixá Ogum, apesar da opinião de autores do fim do século XIX. Seu nome iorubá deriva de Yèyé ọmọ ẹjá ("Mãe cujos filhos são peixes").
O principal templo de Iemanjá está localizado em Ibará, um bairro de Abeukutá. Os fiéis desta divindade vão todos os anos buscar a água sagrada para lavar os axés, não no rio Ògùn, mas numa fonte de um dos seus afluentes, o rio Lakaxa. Essa água é recolhida em jarras, transportada numa procissão seguida por pessoas que carregam esculturas de madeira (ère) e um conjunto de tambores. O cortejo na volta, vai saudar as pessoas importantes do bairro, começando por Olúbàrà, o rei de Ibará.

Iemanjá seria filha de Olóòkun, deus (em Benin) ou deusa (em Ifé) do mar. Tem diversos nomes, relativos, como no caso de Oxum, aos diferentes lugares profundos (ibù) do rio. Ela é representada nas imagens com o aspecto de uma matrona, de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva.


Iemanjá no Brasil 
No Brasil, Iemanjá é provavelmente a mais popular entre os orixás. Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, de azul-claro. Olocum é lembrada por alguns terreiros como sua mãe, mas não incorpora nem recebe culto à parte.
O símbolo de Iemanjá é um abebé, um leque de metal prateado com a figura de um peixe. Fazem-se oferendas de patas, galinhas e cabras bancas, não se aceitando animais de outras cores. Seus pratos são também brancos: ebó de milho branco com mel, arroz e angu. É saudada com o brado de "Odôia!" ou "Odô-fé-iabá!". Suas iaôs dançam imitando os movimentos das ondas, ao ritmo vagaroso e pesado chamado sató, usado também para Nanã.

Diz-se na Bahia que há sete Iemanjás:
Yemowô, que na África é a mulher de Oxalá;
Iamassê, mãe de Xangô;
Euá (Yewa), rio que na África corre paralelo ao rio Ògùn e que frequentemente é confundido com Iemanjá em certas lendas;
Olossá, a lagoa africana na qual deságuam os rios.
Iemanjá Ogunté, casada com Ogum Alagbedé.
Iemanjá Assabá, manca e sempre fiando algodão.
Iemanjá Assessu, muito voluntariosa e respeitável.
As filhas de Iemanjá são voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e arrogantes; têm o sentido da hierarquia, fazem-se respeitar e são justas mas formais; põem à prova as amizades que lhes são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Elas têm tendência à vida suntuosa mesmo se as possibilidades do cotidiano não lhes permitem um tal fausto. Na Bahia, Iemanjá é freqüentemente representada na forma de uma sereia, com longos cabelos soltos ao vento. Chamam-na também, Dona Janaína e Rainha do Mar. A origem do nome "Janaína" é controvertida: O dicionário Houaiss registra a tentativa da museóloga e folclorista Olga Cacciatore, de explicar esse nome como composição iorubá: iya "mãe" + naa "que" + iyin "honra", mas isso está longe de ser ponto pacífico. É possível que seja um diminutivo do nome das janas do folclore português e mediterrâneo, cujo nome deriva da deusa romana Diana e que também são imaginadas como sereias ou fadas das águas. Também é usado o nome Inaiê, talvez do tupi ina'ye, o inajé ou gavião-carijó (Rupornis magnirostris), cujo nome significaria, originalmente, "solitário".
Iemanjá é geralmente sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festejada no dia 8 de dezembro. Entretanto, os baianos deixam de lado o sincretismo que liga Oxum a Nossa Senhora das Candeias, festejada no dia 2 de fevereiro, e organizam nessa data a principal festa para Iemanjá, na praia do Rio Vermelho, que atrai uma multidão imensa de fiéis e admiradores. Oferecem-lhe imensas cestas cheia de presentes, cartas e súplicas, que é coberta de flores e levada em um saveiro, à frente de uma procissão de barcos, para o alto-mar, onde são depositadas sobre as ondas. Se forem devolvidas à praia, é sinal de recusa da divindade.

No Rio Grande do Sul, assim como na Bahia, 2 de fevereiro é dia de Yemanjá, Festa e Procissão de Navegantes, sincretizada como Nossa Senhora dos Navegantes, que é a padroeira da cidade de Porto Alegre, capital do estado. Assim como Nossa Senhora da Boa Esperança, Nossa Senhora da Esperança, Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Candelária ou ainda Nossa Senhora da Purificação é um dos muitos títulos pelos quais a Igreja Católica venera a Virgem Maria.

Uma das maiores festas ocorre em Rio Grande, devido ao sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes. Em Pelotas a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes vai até o Porto de Pelotas. Antes do encerramento da festividade católica acontece um dos momentos mais marcantes da festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Pelotas. As embarcações param e são recepcionadas por umbandistas que carregavam a imagem de Iemanjá, proporcionando um encontro ecumênico assistido da orla por várias pessoas.

A Festa de Navegantes em Porto Alegre é a maior festa religiosa da cidade, e homenageia Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira da cidade, e seu sincretismo afro-brasileiro. Originalmente constava de uma procissão fluvial, com embarcações que singravam o Estuário do Guaíba desde o cais do porto, levando a imagem da santa do centro da cidade até a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Hoje, por determinação impeditiva da Capitania dos Portos, a procissão é terrestre, levando a imagem desde a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no centro da cidade, até a Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes.

Em 8 de dezembro, ocorre a festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia. Nesse dia, feriado municipal em Salvador, também é realizado, na praia da Pedra Furada, no bairro do Monte Serrat (também chamado Boa Viagem), a festa do presente de Iemanjá, manifestação popular que tem origem na devoção dos pescadores locais.

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