terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ònilé ganhou o governo da terra.


Ònilé ganhou o governo da terra.
(Texto é grande, mas bem interessante)

Onilé é um Orixá que representa a base de toda a vida, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte, se caracteriza por ser o princípio e representação coletiva dos elegun e Egungun. é o primeiro a receber as oferendas e a ser evocado nos ritos dos sacrifícios. Todo terreiro possui o acento de Onilé, um deles pode ser observado no centro do Barracão de (candomblé), denominado como o fundamento da casa ou simplesmente Axé da casa, onde todos sabiamente reverenciam este local. Também chamado pelo "Povo de santo" de Oluaye, Aiyê, Ilê e Sakpatá.
Em algumas tradições, Onilé é uma divindade feminina, representa a Mãe Terra (onde acolhe os ancestrais), Egungun. Conta-se que quando Olorum reuniu os orixás para dividir o poder sobre a criação entre eles, uma de suas filhas, Onilé, escondeu-se sob a terra. E acabou ganhando por este motivo poder e autoridade sobre ela. A primeira parte de todos os sacrifícios de (Ejé) sangue é sempre derramada sobre a terra, independente de para qual entidade ou divindade seja o sacrifício, este gesto é uma forma de lembrar e reconhecer o poder de Onilé. Tudo vem da terra e a ela retorna.
Ònìlé era a filha mais recatada e discreta de Òlódùmàrè, vivia trancada em casa, quase ninguém a via e, muitos, não sabiam de sua existência, na verdade Ònìlé não se sentia bem no meio dos outros.
Quando os Òrìsà e seus irmãos se reuniam no palácio do grande Pai para as grandes audiências em que Òlódùmàrè comunicava suas decisões, Ònìlé fazia um buraco no chão e se escondia, pois sabia que as reuniões sempre terminavam em festa, com muita música e dança ao ritmo dos atabaques.
Um dia Òlódùmàrè mandou os seus arautos avisarem que haveria uma grande reunião no palácio e os Òrìsà deveriam comparecer ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e, depois, haveria muita comida, música e dança.
Por todos os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com esmero para o grande acontecimento.
Quando chegou o grande dia, cada Òrìsà dirigiu-se ao palácio na maior ostentação, cada um mais belamente vestido que o outro, pois este era o desejo de Òlódùmàrè.
Iyemojá chegou vestida com a espuma do mar, os braços ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabeça cingida por um diadema de corais e pérolas, e
o pescoço emoldurado por uma cascata de madrepérola.
Òsósí escolheu uma túnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais exóticos animais.
Osaìyn vestiu-se com um manto de folhas perfumadas. Ogum preferiu uma couraça de aço brilhante enfeitada com tenras folhas de palmeira...
Òsún escolheu cobrir-se de ouro e vestir-se com o rio. A roupa de Òsùmàrè mostrava todas as cores, e, em suas mãos, levava os pingos frescos da chuva.
Oya optou por usar um sibilante vento adornando os cabelos com os raios que colheu da tempestade.
Sàngó não fez por menos. Cobriu-se com o trovão e, Òsàlà, trazia o corpo envolto em fibras alvíssimas de algodão ostentando na testa uma nobre pena vermelha.
Não houve quem não lançasse mão de toda sua criatividade para apresentar-se ao grande pai com a roupa mais bonita.
Nunca antes se vira tanta ostentação, tanta beleza, tanto luxo. Cada Òrìsà que chegava ao palácio de Òlódùmàrè provocava um clamor de admiração, que se ouvia por todas as terras existentes.
Os Òrìsàs encantaram o mundo com suas vestes, menos Ònìlé. Ela não se preocupou em vestir-se bem, não se interessou por nada, não se mostrou para ninguém. Recolheu-se no fundo de um buraco que cavou no chão.
Quando todos os Òrìsà haviam chegado, Òlódùmàrè determinou que fossem acomodados confortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor do trono. Satisfeito e alegre com todos os seus filhos e filhas, que haviam cumprido seu desejo e estavam tão bonitos que ele não saberia escolher entre eles qual seria o mais vistoso e belo.
Òlódùmàrè estava tão encantado que não sabia como começar a distribuição, então permitiu que os filhos se apropriassem da riqueza com a qual estavam vestidos.
Dessa forma, Iyemojá ficou com o mar; Òsún com o ouro e os rios; Òsósí com as matas e todos os seus bichos; Osaìyn com as folhas; Oya com raio; Sàngó com o trovão e fez Òsàlà o dono de tudo que é branco e puro. Destinou a Òsùmàrè o arco-íris e a chuva, a Ogum o ferro e tudo o que se faz com ele inclusive a guerra, e assim por diante. Deu a cada Òrìsà um pedaço do mundo, uma parte da natureza, um governo particular.
Dividiu tudo de acordo com o gosto de cada um e disse que, a partir de então, cada um seria o dono e governador daquela parte da natureza que havia herdado. Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma daquelas partes da natureza, deveria reverenciar e agradar aos Òrìsà.
Os Òrìsà, que tudo ouviram em silêncio, começaram a gritar e a dançar de alegria,
fazendo um grande alarido na corte até que Òlódùmàrè pediu silêncio, pois ainda não havia terminado.
Disse que faltava ainda a mais importante das atribuições, e que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar aos Òrìsà.
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Disse que dava a Terra a quem se vestia da própria Terra.
"Quem seria?'' perguntavam-se todos.
"Ònìlé", respondeu Òlódùmàrè.
Todos se espantaram.
"Como, se ela sequer compareceu à grande reunião"
Nenhum dos presentes tinha visto Ònìlé, por conta disto ficaram intrigados.
"Pois Ònìlé está entre nós", disse Òlódùmàrè, e mandou que todos olhassem no fundo do buraco onde, vestida de terra, se abrigava a discreta e recatada filha Ònìlé.
Ònìlé, que também foi chamada de Ilé, a casa, o planeta. Òlódùmàrè determinou que cada um que habitava a Terra pagasse tributo a Ònìlé, pois ela era a Mãe de todos, o abrigo, a casa.
A humanidade não sobreviveria sem Ònìlé, afinal, nela estavam cada uma das riquezas que Òlódùmàrè partilhara com os filhos Òrìsà.
"Tudo está na Terra", disse Òlódùmàrè.
'O mar e os rios, o ferro e o ouro,
os animais e as plantas, enfim, tudo, continuou.
"Até mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-íris, existem porque existe a terra. Na terra estão todas as coisas criadas para controlar os homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a saúde, a doença e mesmo a morte".
Pois então, que cada um pagasse tributo a Ònìlé, foi a sentença final de Òlódùmàrè.
Ònìlé, Òrìsà da Terra, receberia mais presentes que os outros,
pois deveria ter oferendas dos vivos, dos mortos e dos Òrìsà,
porque na Terra também repousam os corpos dos que já não vivem.
Ònìlé, também chamada Aiye, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo dos humanos nunca fosse destruído.
Todos os presentes aplaudiram as palavras de Òlódùmàrè.
Todos os Òrìsà aclamaram Ònìlé.
Todos os humanos reverenciaram a Mãe Terra.
E então Òlódùmàrè retirou-se do mundo para sempre e deixou o governo de tudo por conta de seus filhos, os Òrìsà.
Cultuada discretamente em terreiros antigos da Bahia, a Mãe Terra desperta curiosidade e interesse entre os seguidores dos Òrìsà, sobretudo entre aqueles que compõem os seguimentos mais intelectualizados da religião.
Ònìlé é assentada num montículo de terra vermelha e acredita-se que ela guarda o planeta e tudo que há sobre ele , protegendo o mundo em que vivemos e possibilitando a própria vida.

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